terça-feira, 7 de dezembro de 2010

(porque me apetece...)

 Apetece-me passear na Baixa e ver os velhos do costume nos bancos do costume. Quero lá voltar e poder cumprimentá-los.
 Apetece-me sentar na esplanada do costume, de fronte ao Coliseu; beber a minha bica, ainda com o cheiro quente da própria borra de café; cheirar o fumo das torradas deixadas queimar pela Dona Luísa; ler as primeiras páginas do semanário desponível sobre a mesa, deixado porventura por qualquer outro apaixonado por Lisboa, como eu.
 Ainda me lembro de passear pelo Rossio e ouvir ao longe "Lá vai mais uma turista!". Como tantos outros, eu era apenas mais um (mal sabiam que eu apenas era turista das suas próprias vidas).
 Recordo, com vigos, o tempo que dediquei a cada pessoa em especial; as falas que , gentilmente, as fiz ter; os seus passos que, com orgulho, ajudei a desenhar e os decalques que esbocei sobre a calcaçada.
 Conheço cada olhar, cada sorriso, cada sonho de outrora, mas e os de hoje? Onde estão?
 Meros aprendizes de pensamentos navegam pelo meu ser e, ainda que não os consiga agarrar com as minhas ínfimas mãos, eles por si só permanecem em mim, como que analisando, receando falar e temendo a exposição.
 Já não conheço o Mundo!
 Os velhos que antigamente me dariam um lugar e me convidariam, com as suas palavras gastas pela idade, a viver aquele momento com eles já lá não estão. Tal como pedaços de tecido que se rasgam, também eles se apoderaram, sem notarem, nda fragilidade das suas vidas para seguirem um outro rumo... Um outro caminho.
 Lembro-me como se fosse hoje: "Bom dia, menina Lucinda! Porque não se senta aqui, junto de nós? Precisamos de companhia e quem melhor que você?"
 Sinto falta de tudo isto. Sinto saudade de ser a "menina Lucinda" daquelas pessoas, de as tratar como família, de ser para elas...especial.
 Tenho 97 anos e estou longe, mas nem por isso o deixo de sentir.
 Sinto que até o meu próprio rosto rogoso define tudo isso ... SAUDADE !
 Se me preguntarem "Porquê?"

SIMPLESMENTE PORQUE ME APETECE (:



MCOELHO

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Escrevo, não por defeito, nem por excesso. Escrevo com medida certa.
Até hoje, sempre senti a necessidade de o fazer. Não me perguntem o porquê de só o realizar hoje, porque não saberei responder.
Atrevo-me a dizer que nem conheço a razão pela qual dedico tanto tempo a escrever. Será defeito ou feitio?
Não espero que gostem, porque muitas das coisas que acabo por redigir, nem eu percebo o seu significado.

"As palavras surgem com cores secretas, odores subtis e densidades ignoradas!" - Baptista Bastos

Pois é, ainda hoje dei comigo a escrever acerca desta tão célebre frase. Se o fiz com êxito? Não sei, só poderei dizer-vos que me deu um gozo tremendo poder dedicar um pouco do meu tempo a ela.
Olhei-a de soslaio, como se diz na gíria e dei conta que não sabia sequer que palavras lhe empregar.
"Que frase gira!", diziam alguns; "Mas o que significa?", perguntavam outros. Limitei-me a pegar na caneta que trazia comigo e a escrever até onde a imaginação me permitisse.

Escrevemos tantas vezes com a certeza que a mão se irá cansar, que ficaremos gastos só pelo simples facto de estarmos atarefados a pensar e a arranjar mil e uma outras palavras para a frase seguinte.

Podemos ter o conhecimento linguístico correcto, mas será que sabemos como empregá-lo?


                                                                                                              MCoelho (: